Santa Catarina é um Estado
conhecido por suas belezas naturais, principalmente suas praias.
Já o povo catarinense começa a ter uma má fama crescente, principalmente nas redes sociais, devido a casos de neonazismo.
Estudo recente aponta a existência de 530 células neonazistas no Brasil, grande parte na região sul.
De fato, na década de 1930 o Brasil teve oficialmente um Partido Nazista que chegou a ser o maior partido nazista fora da Alemanha. O segundo estado em número de filiados era Santa Catarina.
No entanto, os catarinenses merecem ser conhecidos nacionalmente por outros fatores. Fatores que unem todos os habitantes do estado e que marcam uma qualidade catarinense distintiva que deve ser valorizada e explorada: a liberdade.
Se examinarmos o Estado de Santa Catarina, sua composição é uma colcha de retalhos. O litoral, território original da Capitania de Santa Catarina no Brasil colônia, possui forte cultura açoriana, ou seja, imigrantes da Ilha da Madeira e do Arquipélago dos Açores, Portugal. A região serrana, inicialmente pertencente à Província de São Paulo e incorporada à Província de Santa Catarina durante o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, rota dos tropeiros gaúchos e paulistas, tem forte influência gaúcha. O sul do estado é marcado pela colonização italiana. O Norte e Vale do Itajaí pelas colonizações italiana e alemã. Já o atual oeste catarinense, ocupado por colonos italianos do Rio Grande do Sul, só foi integrado ao Estado de Santa Catarina já no século XX, após longa disputa com o Paraná marcada pela Guerra do Contestado.
Nesse caldeirão cultural ainda é possível identificar uma linha que une a todos: a liberdade.
Isso se comprova por eventos históricos e pelos dados econômicos.
Podemos destacar como marco inaugural a Revolução Farroupilha e, com ela, nossa heroína Anita Garibaldi, mais precisamente com a constituição da República Juliana em 1839. Sua biografia encarna o espírito catarinense de luta por liberdade.
Partindo para o período republicano, o hino do Estado, criado após a Proclamação da República, é verdadeira homenagem abolicionista, com destaque para trechos como “Quebram-se férreas cadeias, rojam algemas no chão; do povo nas epopeias fulge a luz da redenção”, declarando, ao final, a vitória da liberdade: “Quebrou-se a algema do escravo e nesta grande Nação, é cada homem um bravo, cada bravo um cidadão”.
Ainda durante a consolidação da república, a ilha catarinense, então chamada de Desterro, teve papel central unindo a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, sendo declarada capital do Governo Provisório do Brasil pelas forças contrárias a Floriano Peixoto, que, por via inconstitucional (leia-se: golpe), assumiu a presidência da república sem chamar novas eleições, conforme exigia a Constituição da época. O resultado da luta pela legalidade resultou na substituição do nome da capital para Florianópolis (Floriano + pólis), ou seja: Cidade de Floriano, além da morte de destacados políticos locais como o Barão de Batovi, herói da Guerra do Paraguai que carece de atenção biográfica por historiadores nacionais e locais.
Por fim, já no século XX, a Guerra do Contestado gira sobre elemento crucial à liberdade: o direito à propriedade, principalmente por caboclos há muito domiciliados na região.
No campo econômico, o Estado de Santa Catarina está próximo de se tornar o terceiro estado mais rico do país. Internamente, todas as regiões possuem forte representação econômica. A Grande Florianópolis destaca-se nos setores de tecnologia, turismo, serviços e construção civil. O Norte é polo tecnológico, moveleiro e metalmecânico. O Oeste concentra atividades de produção alimentar e de móveis. O Planalto Serrano tem a indústria de papel, celulose e da madeira. O Sul destaca-se pelos segmentos do vestuário, plásticos descartáveis, carbonífero e cerâmico. No Vale do Itajaí, predomina a indústria têxtil e do vestuário, naval e de tecnologia.
Santa Catarina possui mais de 20 empresas listadas na bolsa de valores, com valor de mercado superior a 253 bilhões de reais. As mais conhecidas são: Weg, Engie e BRF.
Tudo isso aponta que os catarinenses possuem grande preocupação com a liberdade econômica.
Mas a luta pela liberdade não se restringe ao campo econômico. Florianópolis, por exemplo, é reconhecida como “capital do turismo gay no Brasil”, com evento anual da parada LGBTQIA+, sendo listada como um dos destinos “gay-friendly”, tendo a Praia da Galheta como ponto de exemplo.
Por isso há de se criar uma nova mitologia para os catarinenses. Há de se ter esse autoconhecimento de identificar que nossa maior virtude é a liberdade, em todos os seus espectros.
Precisamos contar a todos as histórias de nossos heróis regionais, a exemplo de Anita Garibaldi, Barão de Batovi e tantos outros heróis catarinenses que aguardam ansiosamente por um resgate de sua biografia, como Maria Mina, empreendedora africana do Século XIX que, por meio de atividade comercial praticada no primeiro mercado público da Ilha de Santa Catarina, não só comprou sua própria liberdade como promoveu disputa judicial pela liberdade de outro escravizado contra poderosa autoridade local.
Ao invés de uma colcha de retalhos cultural, todos nós, catarinenses, independentemente da ancestralidade, abraçamos e valorizamos a liberdade. É por isso que cada verso do hino catarinense deve ser explorado e valorizado.
Sendo a liberdade valor tão caro aos catarinenses, raiz que une tantas culturas locais diferentes em diferentes momentos históricos, devemos direcionar essa força para novas pautas.
No campo político, lutar por maior autonomia federativa do Estado frente ao Governo Central (União). Na economia, devemos lutar por maior liberdade econômica, protestando pela realização de reformas que promovam liberdade seguida de igualdade, tal como a reforma tributária e reforma administrativa.
Se valorizamos a liberdade de expressão, devemos combater com veemência nascentes células neonazistas ou tendências golpistas.
Há de se eleger uma data para comemorar a identidade catarinense. Um feriado estadual em 22 de julho, em homenagem à República Juliana, ou, ainda, em 14 de outubro, em homenagem à instalação do Governo Provisório do Brasil na capital catarinense contra o golpe promovido por Floriano Peixoto.
Enfim, não devemos temer o futuro. Devemos construir o futuro resgatando um passado catarinense glorioso de luta por uma liberdade por inteiro, abraçando a liberdade econômica, liberdade federativa, liberdade de expressão e liberdade nos costumes.
Este é o desejo de um catarinense a todos os demais catarinenses e também àqueles que adotaram Santa Catarina como seu lar.
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